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 A VOZ DO SURDO



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'como ela pôde, com o tempo, se representar no mundo, não como um indivíduo portador de uma deficiência, com um defeito que precisava ser consertado, mas sim como pessoa surda'.
'Como ela passou a acreditar no seu potencial para enfrentar os obstáculos naturais da vida e trilhar seu próprio caminho para alcançar seus objetivos e realizar seus sonhos, assim como é de direito, a qualquer outro indivíduo humano'.

"O desenvolvimento lingüístico de um sujeito com surdez congênita profunda: a trajetória para a conquista de sua identidade como pessoa surda". Regina Lúcia Teixeira Sampaio


"Assim, de acordo com o art. 2º do Decreto 5.626/2006, denomina-se Surda toda pessoa que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais e que manifesta sua cultura principalmente pelo uso da Lingua Brasileira de Sinais - Libras"

(Cártta Carolina S Gomes [advogada] ARQUEIRO14/2006)

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QUEM SOMOS?

" VOZ" é mais que falar. Voz significa fazer-se ser ouvido. "voz do morro", "voz do Brasil", "voz da esperança" e "voz do povo".

E O SURDO NÃO TEM VOZ? . . . . .TEM!!!

Ao lutar pelos seus direitos, você pode fazer as pessoas, políticos, empresários, "ouvir" tua voz.

Somos um grupo de colaboradores: professores, interpretes, simpatizantes; ouvintes e surdos. Nós amamos pessoas. Amamos Ouvintes. Amamos Surdos.

SOMOS UM GRUPO DE PESSOAS INTERESSADAS NO BEM-ESTAR DAS PESSOAS SURDAS.

MUITAS DAS COISAS ESCRITAS NESTE SITE É PARA OUVINTE LER, PARA QUE CONHEÇA AS DIFERENÇAS, AS DIFICULDADES, E UM POUCO DA CULTURA SURDA.

Neste site são apresentadas opiniões, pesquisas e dissertações de profissionais na área, especialistas, mestres e autoridades diversas. Ao citá-los, apresentamos os autores e nome de livros e dissertações. Quando disponiveis, os links também são postados. A maioria do material que usamos, pode ser achado no www.dominiopublico.org.br, que é a biblioteca do governo federal.

Citamos trechos das publicações, mas você deve ler a publicação inteira para ter uma visão clara do assunto.

SE QUALQUER PESSOA CITADA ACHAR-SE LESADA OU PREJUDICADA DE QUALQUER FORMA, FALE CONOSCO E IMEDIATAMENTE TIRAREMOS A CITAÇÃO DO SITE.

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Número de surdos Brasil

Conforme o Censo Demográfico de 20005, no Brasil existem mais de 5.700.000 surdos, que na maior
parte só são diagnosticados em torno dos dois anos de idade, o que de acordo com o Joint Committee on Infant Hearing6, é considerado tardio, uma vez que se preconiza que o diagnóstico da perda auditiva deve ser realizado até os 3 meses de idade e a intervenção até os 6 meses. Quanto mais cedo for detectado qualquer problema auditivo, mais eficientes serão as condutas a serem adotadas. A agilidade na reabilitação auditivaé conveniente, visto que há período de prontidão para o aprendizado podendo desta forma, a privação auditiva interferir no processo 7.
5 - Neri M. Diversidade: retratos da deficiência no Brasil. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, CPAS; 2003.
6 - Joint Committee on Infant Hearing. Position statement. Audiol Today 1994; 6: 6-9.
7 - Scaranello CA. Reabilitação auditiva pós-implante coclear. Medicina (Ribeirão Preto) 2005; 38: 273-8.

 

"O MUNDO DO SILENCIO"

NÃO SOU SURDO. Jamais entenderei exatamente o Mundo do Silêncio.

Imagine um poema. A beleza do ritmo e da métrica. A beleza da rima, com a similaridade da pronúncia ao fim das frases, sejam seguidas ou intercaladas. Um surdo não tem idéia de que sabor tem a rima. Lembre-se de duas palavras que se parecem, que rimam. Se puder lembrar de rimas inseridas em letras musicais, a rima adornará a melodia com rara beleza.


Imaginei-me num país estranho. Não conheço absolutamente o idioma, não entendo um palavra que falam. Podem estar falando coisas bonitas, ou não. Podem estar falando mal de outros, palavrões, ou seja o que for, mas para mim nada significam, pois para meu "ouvido surdo" soam como um emaranhado de grunhidos humanos.


Se você conseguir explicar para o surdo de nascença o que é rima, argumentando que são palavras que soam similares ao pronunciar-se, por terem as mesmas letras no fim das palavras, pode ter certeza, ele não terá noção do que você está falando, pois seus ouvidos jamais conheceram o som das palavras ou as ditas rimas que embelezam as frases.


Não é diferente com ouvintes. Existem muitas coisas que não conhecemos neste planeta. Talvez haja até sons que nunca ouvimos. Sons com freqüência acima dos vinte mil hertz, quer dizer, que façam o ar ou uma membrana vibrar mais que vinte mil vezes por segundo, nós não ouvimos. Alguns animais, como os cães, captam. Sons com menos de vinte mil hertz, soam bem "fininho" para nossos ouvidos e são chamados de agudos. Do outro lado da tabela de freqüências audíveis estão os sons acima dos vinte hertz que soam bem "grosso", e são chamados de sons graves. Sons abaixo de vinte ciclos por segundo, são ouvidos por alguns animais, como os elefantes, e seu poder de propagação é grande. Um elefante pode ser ouvido por outro elefante a uns oito kilometros de distância. Quer dizer que existem sons que estão a nossa volta, são usados amplamente por animais para se comunicarem, ou por instrumentos eletrônicos como radares, rádios, satélites, que nós não ouvimos nem ouviremos jamais. São os sons abaixo de 20 herz e acima de 20 mil hertz.


Notei que povos estrangeiros têm seus ídolos, por exemplo, cantores de talento, que por décadas fazem tanto sucesso em seus países, e que as demais pessoas sequer sabem que existem. Existem animais que, mesmo no século da internet e da globalização, não conhecemos. Existem plantas e frutas que são parte da vida e da alimentação diária de alguns povos que nem imaginamos. Existem costumes de povos que desconhecemos. Alguns ótimos, outros que nos deixariam horrorizados. Como de auto-flagelos, cortes no corpo. Como da castração feminina, sendo as próprias mães que permitem e que, para nós, é uma barbaridade hedionda; que deveríamos lutar com todas as forças para eliminá-la da superfície da terra. Vivemos assim mesmo, sem conhecer tantas coisas. A qualidade de nossas vidas não é diminuída por isto, assim como alguns habitantes do campo passam bem sem a internet, sem a TV a cabo, sem telefone, sem inúmeros aparelhos eletrônicos, ou domésticos, que são imprescindíveis para o habitante da cidade.


O problema surge, quando um habitante do planeta vive num meio em que algumas coisas, especialmente as ligadas a comunicação, são imprescindíveis e estas lhe falta. Se aquele habitante do campo vem para a cidade, inevitavelmente vai passar a necessitar destas mesmas imprescindíveis facilidades modernas. Normalmente não é difícil de se ajustar. Nem é demorada esta transição, porque, em geral, estão disponíveis.


Com o surdo, o caso é muito mais complicado. Porque ele vive no meio do mundo da comunicação, e ao mesmo tempo, muitas das facilidades não lhe estão inteiramente disponíveis. Ele precisa e não tem. É bem verdade que, muitas coisas ele passa sem. Ele pode até ter lido as descrições poéticas deixadas em tinta sobre o papel frio dum livro de poesias, mas o surdo absoluto nunca desfrutará do calor e da beleza do som rimado duma poesia de amor. Tudo bem, ele viverá sem isto.


Mesmo um habitante do mundo ouvinte moderno, talvez nem queira ouvir música clássica ou seja que gênero for, porque a música não lhe atrai e mesmo porque, vive muito bem sem ela. Há os que podem ouvir, mas não usufruem, por poucas oportunidades ou mesmo por opção. A verdade é que existem as mais belas coisas da vida para serem delícias do ser humano, mas que ele viverá sem, caso fizer esta opção.


E que dizer daqueles bens sem os quais o ser humano não terá qualidade de vida? Alimentação de qualidade. Emprego, transporte, moradia, família. Este pode não ser o problema do surdo. Além de ter estar coisas, o surdo precisa de algo mais. O surdo viverá sem ouvir uma bela poesia, o canto dos pássaros ou a voz humana transcedendo a emoção numa melodiosa canção bem composta.


Há, no entanto, sons de nosso planeta que, sem percebermos, constroem, ou pelo menos ajudam na edificação dum indivíduo de personalidade estável, equilibrada e saudável. O inverso disto funciona correspondentemente.
Uma pessoa que ouve diariamente palavras duras, cálidas, de desprezo, pode ficar mentalmente confusa. Por "ouvir" sons feitos de palavras rudes, tanto no significado como na maneira que é transmitida, emitidos por um marido cruel, a esposa sofre maus tratos emocionais. A palavra não precisa ser necessariamente em volume alto, cortada aos berros, lançada aos gritos no ar. Mesmo a repetição maldosa duma aparente palavra tímida, em volume baixo, que rebaixa, humilha e causa dor, machuca emocionalmente. É uma agressão emocional. Doentes tratados expressaram tristeza por que seus pais nunca disseram "eu te amo". Não lembram de ser pegos no colo e ter recebido carinho. O que a criança ouve pode ter um efeito duradouro sobre ela.


"A 'violência verbal' e a violência psicológica andam, habitualmente, de mãos dadas e estão sempre presentes em todas as outras situações de maus tratos. Sempre que uma criança é exposta a este tipo de violência, pode afirmar-se que é alvo de abuso emocional. Os insultos verbais, a humilhação, a ridicularização, a desvalorização, a hostilização, a indiferença, a discriminação, as ameaças, a rejeição, a culpabilização, as críticas e o abandono temporário são apenas alguns exemplos da forma como o abuso emocional se manifesta. Vários estudos demonstraram que crianças expostas a situações deste tipo apresentavam mais problemas de ajustamento, défices ao nível da competência social, menor capacidade de resolução de problemas, agressividade e temperamento difícil e baixos níveis de realização acadêmica". ADRIANA CAMPOS (HTTP://WWW.EDUCARE.PT)

 

"A Violência Psicológica ou Agressão emocional, às vezes tão ou mais prejudicial que a física, é caracterizada por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições exageradas. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes para toda a vida". (Aspectos psicológicos da violência doméstica contra a mulher) Guydia Patrícia Dias Costa Psicóloga http://buenoecostanze.adv.br



Um aluno, um filho, que ouve diariamente expressões negativas de seus pais ou professores, piora seu comportamento, ficando um espelho daquilo que é rotulado: "você só faz arte", "você é um aborrecente".


Mas a palavra doce edifica uma pessoa doce, equilibrada. Nós somos assim. Reagimos, falamos, pensamos, até sonhamos, conforme o que nos acontece diariamente. Somos o reflexo em muito, mas muito mesmo, do que ouvimos todo dia. Entristecemo-nos ou alegramo-nos. Entristecemo-nos e nos alegramos.
Segundo Drª. Mariuza:
'Os contos de fadas exercem uma influência muito benéfica na formação da personalidade porque, através da assimilação dos conteúdos da estória, as crianças aprendem que é possível vencer obstáculos e saírem-se vitoriosas (o herói sempre vence no final). Isso ocorre porque, durante o desenrolar da trama, a criança se identifica com as personagens e "vive" o drama que ali é apresentado de uma forma geralmente simples, porém impactante. Conflitos internos importantes, inerentes ao ser humano, como a inevitabilidade da morte, o envelhecimento, a luta entre o bem e o mal, a inveja, etc. são tratados nos contos de fadas de modo a oferecer desfechos otimistas". "Sintetizando, os contos de fadas passam às crianças a mensagem de que na vida é inevitável termos de nos deparar com dificuldades, mas que se lutarmos com firmeza, será possível vencer os obstáculos e alcançar a vitória".


"Ao ouvir uma estória, o imaginário da criança é acionado e, inconscientemente, as emoções provocadas pelos medos, frustrações, amores, desejos, sentimentos os mais variados, atingem diretamente a camada endodérmica. Daí porque, enquanto ouvem as estórias, emocionam-se com tal intensidade que têm "frios na barriga", sustos, etc". (Mariuza Pregnolato Psicóloga Clínica) (http://www.qdivertido.com.br)
"Segundo um estudo encomendado a Sue Palmer pela The Basic Skills Agency, uma organização britânica independente de combate à iletracia, o desenvolvimento precoce da linguagem é muito importante para o bom desempenho escolar da criança. O estudo, realizado em Março de 2006, demonstrou que crianças que falam bem e sabem ouvir, também aprendem melhor a ler e a escrever. Daqui se depreende que as crianças pequenas precisam de falar e de ter quem converse com elas". ADRIANA CAMPOS (HTTP://WWW.EDUCARE.PT)


"A morte e a vida estão no poder da língua , "Palavras suaves são como favos de mel, doçura para a alma e saúde para o corpo". Provérbios 16:23 - Assim, a boa palavra enternece o ser e, pela doçura, cura quem fala e cura os que a ouvem.


Um ser humano ouvinte, habitante do planeta da comunicação eletrônica, terá lido livros, assistido novelas e filmes aos milhares antes de atingir a vida adulta. Palavras meigas, assim como inúmeras palavras gélidas e mortais. Um ouvinte terá ouvido centenas de milhares de palavras ou mais antes de sobrar qualquer resquício de sua adolescência. Quantas vezes uma ouvinte, moça de seus vinte e poucos anos, ouviu palavras ternas, pronunciadas com sabor doce, de amor e de paixão, vindas dos pais, amigas, namorados, ou mesmo ao assistir filmes, contando o tempo desde seu nascimento? Imagine que está moça está no cinema. Quando o rapaz do filme falar "eu te amo" para sua parceira, esta moça que assiste o filme conseguirá avaliar o tom, o olhar, a verdade ou a falsidade, destas palavras, porque seu cerebro juntará anos de se ouvir esta frase em inumeras e diferentes situações, juntará com o que já assistiu no filme e o julgará.


Se assim for, que as inúmeras vezes que ouvimos palavras de delicadeza, tenham contribuído para que sejamos o que somos, ou palavras rudes que nos deixaram triste em alguns momentos de nossas vidas, então somos de fato construídos, em grande parte, pelo que entrou por nosso pavilhão auricular e pelo jeito que foi interpretado pelo nosso cérebro. Pela genética adquirida de nossos pais, pela vivência, experiências, tipo do lar, trabalho e pessoas que nos cercaram, formamos nossa personalidade. Mas muito desta formação se deve aos sons que invadiram nossos cérebros em muitos anos.


Alguns especialistas sugerem aos pais que leiam e conversem com seus filhos enquanto estes aguardam para nascer no ventre de suas mães. Porque neste lugar recondido e protegido, eles reagem á voz da mãe tranqüilizando-os. Então, muito mais pela maneira em que é dita do que pelo significado das palavras que este bebê ainda não conhece. Após o nascimento não é diferente. Todos que vêm o bebê querem conversar com ele. Todos querem ensinar as primeiras palavras. O Pai, a mãe, os tios, os irmãos. Também os vizinhos e demais parentes. Não conseguimos estar perto dum nenén sem sentir esta vontade invadir nosso coração, de brincar e falar palavras infantis, doces e meigas. Em contrapartida, o nenén em muito pouco tempo aprenderá a falar. Primeiro repetirá o que ouviu, depois formará suas próprias sintaxes.


Pelo resto da vida será assim. Quando adultos, nós já sabemos falar desde pequenos, mas grande parte, senão toda nossa fraseologia é mera repetição do que e da maneira que o grupo a que pertencemos fala. A entonação, a "cantada", o significado das palavras e a maneira em que pronunciamos é regida pelo costume vocal das pessoas com quem nos relacionamos. E que poder tem a palavra que atinge nossos tímpanos!


Uma repetição dum jargão em um programa humorístico basta para estarmos usando-o noutro dia. Uma palavra rude nos induz imediatamente a reagir com uma carranca, e às vezes com uma avalanche de flechas afiadas feitas em palavras cortantes e mortais. Uma palavra doce, um elogio, faz nosso coração derreter. Uma bela poesia, uma voz afinada interpretando uma música que gostamos especialmente, poderia abrir as comportas lacrimais de nossos olhos e nos fazer chorar.


Não tem jeito. Somos o que somos, física e biologicamente, pelos nossos genes e pelo que comemos. Somos o que somos psicologicamente, estáveis ou não, pelo que invade nossos olhos e ouvidos. Nosso tato e nosso olfato também ajudam nisto. O tempo e repetição esculpem e definem em nós um ser humano único no planeta. Nossos ouvidos são responsáveis em parte pelo equilíbrio de nossas personalidades. Ouvidos que ouvem e cérebro que interpretam.

 


O BEBÊ SURDO

O cuidado terno da mãe, com sua barriga, com sua saúde e com seu bebê intra-uterino causarão um bem estar geral na criança que nascerá.

Um bebê nascido surdo receberá em algum momento de sua vida uma recepção diferente. Até rejeição talvez. Mamãe que chora, papai que não aceita, pais confusos e frustrados.
Os que iriam querer ouvir as primeiras palavras do neném se afastam com frustração. Poderiam brincar exaustivamente de ensiná-lo a falar se pudessem, mas, desistem um tanto rapidamente. Mesmo que se esforcem, e conversem, e falem, o fato é que o bebê, embora tenha satisfação pela forma delicada e divertida que os adultos lhes homenageiam, se assim acontecer, não ouvirá mesmo nada. O tratamento adulto dispensado ao bebê surdo será inevitavelmente diferente. Com o tempo, parentes, vizinhos e amigos acabam desistindo de ensinar a falar, ou de querer ouvir as primeiras palavras do bebê surdo.


O bebê cresce. Os pais terão que usar métodos inventivos, mais criativos para ensinar e educar seu bebê surdo. Uma mamãe fala "não" ao bebê ouvinte que está em outro aposento, mas a mamãe terá que levantar-se e deslocar-se até o bebê surdo. É como um adulto surdo que atravessa a rua e se aproxima um carro veloz; gritar para avisá-lo será inútil. Se a criança demora no banheiro, bater na porta com força talvez não surte efeito, a menos que a vibração chegue até ela. Para explicar-lhes porque o certo é certo e o errado é errado não será fácil. Enviá-lo à escola será uma preocupação. Será que saberá atravessar a rua? E se não ouvir o som dos carros passando? Explicar que fulano é irmão, tio ou primo, será complicado. Contar historias infantis para seu filho será um grande desafio, que aliás poderá se tornar uma diversão com teatros e máscaras.


Deixando de ser bebê, e passando para a fase infantil, é rejeitado pelas demais crianças que não encontram muitas vezes meios de se comunicar com alguma qualidade. Algumas brincadeiras serão aparentemente impossíveis. Mesmo porque, esbarram não só na surdez, mas também na falta de palavras. A criança surda não conseguirá pronunciar direito, senão balbuciar, mesmo que tentativas exaustivas de oralizá-la seja feitas. Ainda que estas certamente possam ajudar a criança. O fato é que os músculos faciais, a língua e todo o mecanismo de repercussão que moldam a coluna de ar que as cordas vocais entregam afinadas, simplesmente insistem em se recusar a transformar corretamente o som em palavras entendíveis. Uma coluna de ar sai dos pulmões e segue passando pela fenda das cordas vocais esticadas, gerando um silvo, um assobio. Esta vibração será moldada pela cabeça de quem fala, pois o som, ao passar pela boca, conta com a participação da movimentação correta da língua, da caixa de repercussão que é o interior da boca, das fossas nasais, do crânio, e para amplificar, do tórax e do esqueleto, que forma uma grande caixa de reverberação. Passa num assobio pela garganta e sai com uma palavra audível e entendível pela boca. Mas a criança surda nunca ouviu uma palavra para saber a correta movimentação do sistema a fim de produzí-la. O trabalho da oralização é complicadinho.


O resultado não é dos melhores, embora muito útil. Se vale a pena o trabalho, há muitas divergentes opiniões.
A conseqüente falta de palavra, o silêncio, ou a maneira como balbucia sons estranhos para tentar se comunicar causa a diminuição de amigos. O tipo de problemas da criança em fase infantil, se transformam em outros tipos, e maiores, em todas as demais fases de sua vida.

 


A ADOLESCÊNCIA

Como os pais de adolescente, sejam eles os pais, surdos ou não, lidam com seus filhos surdos ao entrarem na puberdade? A assustadora menstruação. A temível transformação do corpo das moças e dos rapazes. Na explicação deveriam constar mudanças do próprio corpo, assim como as mudanças no corpo do sexo oposto.


Considerando que, embora alguns pais possam cuidar bem disto e alguns surdos possam ler sobre isto, muitos não teram acesso a importantes informações. Os surdos, rejeitados ou ignorados desde o nascimento, terão que se virar. Mui provavelmente não saberão se expressar para alguém que poderia ajudá-los.
Nesta fase, multiplicam-se as dificuldades. Escola, amigos, professores mal preparados, dificuldades na aprendizagem, pais confusos.


Se o adolescente souber ler, poderá se virar melhor. Mas como aprenderá a ler? E como fazê-lo entender o verdadeiro significado das palavras? É fácil mostrar uma caneta e apontar a palavra que a descreve. Mas, como ensinar e explicar o que significa a palavra "amigo"? Como ensinar e explicar palavras como "exemplo", "empatia", "coração apaixonado", saudades, responsabilidade, discrição e outras.

O ADULTO

O surdo adulto foi privado, por força das circunstâncias, de um bem muito valioso. Se a construção de uma personalidade estável depende, mesmo em parte, das milhões de informações processadas pelo cérebro, cujo acesso foi o ouvido, então o surdo perde muito. Aquelas histórias infantis, a voz da mãe quando criança, palavras doces de amor, paixão, filmes, novelas, enfim, milhões de informações compostas não só de palavras isoladas, mas contextualizadas e corroboradas com as imagens, foi negado ao surdo. Porque frases que falam do amor entre um homem e uma mulher num filme, por exemplo, vem acompanhada de toda uma historia anterior descrita no filme, de muitas outras palavras faladas com carinho, com gestos e olhares, com suavidade do som expresso ao amado ou à amada, e ganha significado. O cérebro de quem assiste, ajunta toda a historia de sua vida, adiciona as informações do filme, de lealdade ou traição, com a maciez da palavra falada, e processando tudo, interpreta aquele simples "eu te amo", como verdadeiro, ou falso. No entanto se escutarmos um ator falando numa lingua que não estamos acostumados falar, "eu te amo" naquele idioma não terá o impacto e o significado da expressão falada em nossa prória lingua.


Assisti um filme nesta semana cujos personagens falavam um idioma que eu não conheço. Assisti sem legendas. Confesso que as imagens, e só as imagens não me ajudaram em nada a decifrar o que se passava. Comecei não entendendo pouco. Acabei não entendendo muito. Entendi nada. Não soube quem era quem. Parentes, mãe, irmãos, amigos, que país estava, ou que história se contou exatamente. Quando achei que estava entendendo alguma coisa, só foi preciso uns minutos para eu entender que eu não sabia mesmo o que acontecia. Um filme do tempo do cinema mudo seria bem diferente, mas um filme atual, . . .


Resolvi assistir o jornal nacional sem volume, sem som. O homem e a mulher da notícia falaram e falaram. Não tenho idéia do que falaram. Então apareceram imagens. Um acidente de carro aconteceu. Em que cidade? Morreu alguém? Era famoso? Porque aconteceu o acidente? Por que este acidente era notícia? Estas imagens não me ajudaram, em vez disto, me deixaram confuso e curioso. Os apresentadores falaram e falaram e falaram. Novas imagens. Era o Presidente da República com algumas pessoas vestidas de modo diferente. Uma visita de pessoas estrangeiras importantes? Quem eram? Por que estavam ali? Outra imagem. Um furacão. Quanta tristeza! Não entendi se era um furacão ou era uma enchente. Em qual país? A imagem não me disse. Fiquei sabendo então que houve muitas notícias, porque os apresentadores falaram bastante. Também soube que houve uma visita de estrangeiros de algum lugar, acho eu, e que um furacão ou uma enchente devastou alguma região de algum país.


Parece-me que talvez menos de dez por cento da notícia eu entendi. Analisando que sou ouvinte e vejo muitos jornais, cheguei à conclusão que tive este aproveitamento porque tinha assitido o jornal na semana inteira e sabia pelo noticiário do dia anterior da ocorrência de furacão.


Então decidi ver todos os dias os noticiários, durante um mês, com volume zerado. Pensando na possibilidade de não saber ler, então achei que não deveria ler jornais também. No terceiro dia, decidi não mais decidir tamanha incoerência, pois eu estava ficando desprovido da informação necessária para a vida em meu meio costumeiro.


Decidi então, assistir um programa humorístico sem volume. Houve muitas gargalhadas, mas, não entendi nenhuma das piadas faladas.
O surdo passa a vida inteira nesta situação. Assiste o jornal sem som. Assiste aulas na escola, sem som. Assiste pessoas conversarem ao seu redor, sem som. Assiste bandas musicais sem som. Assiste esportes sem som. Assiste novelas e filmes sem som. Assistem propagandas eleitorais com as promessas que poderiam mais tarde cobrar, sem som. No caso destas propagandas, quando tem legendas, o surdo que tem dificuldades em aprender a ler terá que ler mais rápido que um ouvinte, pois depende inteiramente destas que passam como um raio. Quando tentam ver a menina interpretando em Libras, não conseguem ver o rosto da moça, pois não dá para olhar para dois lugares ao mesmo tempo, e mesmo porque a menina é tão pequena que mal da para decifrar seus gestos que são menores ainda. Assistem a chuva cair sem som, a corrida de formula um sem som, . . .


Penso na situação que surge quando o surdo perde a saúde, especialmente a nível psicológico e neurológico. Como será devidamente tratado? Análise psicológica? Quando é um ouvinte e está enfermo, com depressão, é preciso muita conversa com profissional da área de saúde mental, seja analista, psicólogo, psiquiatra ou neurologista, para que o doente se restabeleça. E como será tratado o surdo com esta mesma condição debilitada? Com um interprete de Libras?


A emoção no coração do ser humano é disparado por uma infinidade de gatilhos. A velocidade faz disparar um coração cheio de emoção. Esportes radicais fazem o coração querer sair, como um tiro, pela boca. Ganhar um presente especial e muito desejado pode deixar o coração emocionado.


E quando se trata de relacionamento humano, então, o coração se dobra, desdobra, pulsa, sofre arritmia, explode em pura emoção.
Uma mãe carinhosa, ao falar meigamente com seu bebê deixa seus olhinhos brilhantes parados com um leve sorriso. Seu pequeno coração tem uma grande emoção. Quando mamãe chega, depois de um tempo longe, ao ouvir a voz terna de sua mamãe que vem la longe, mesmo sem seus olhinhos a descobrir, faz seus pequenos ouvidos gritarem ao seu coraçãozinho: "mamãe está aqui". Até dormindo, com olhinhos fechados, a voz da suave canção anima o coração. A voz da mãe é remédio, para o bebê ouvinte. E assim continuará a ser pelo resto da vida enquanto mamãe viver.


Quando houve a possibilidade de ganhar o direito a um telefonema, participantes de um reality show, privados da presença de seus familiares e amigos, disputaram com afinco o prêmio. Os ganhadores, um homem e uma mulher, tiveram seus corações esvaindo em lágrimas sem parar ao ouvir a voz da pessoa amada do outro lado da linha.


Quando viajamos e ficamos sem ver nossos entes queridos, um telefonema acalenta e diminui um pouco as saudades.
Nossas reações emocionais são disparadas, definitivamente, ao ouvirmos o som conhecido de outro ser humano.


Significa que o surdo não tem emoção? O surdo, como um ser humano plenamente capaz de exercitar suas emoçoes, não é diferente do ouvinte. Cada ouvinte é diferente em demonstrar e sentir emoções. Habitantes de paises diferentes também expressam mais ou menos emoções, e de maneiras diferentes. N a verdade, cada um de nós vive num mundo bastante pessoal. O homem entende o universo feminino? Não entendemos muitas vezes o "mundo" das pessoas com quem vivemos, o adolescente tem seu proprio mundo, o rico e o pobre têm seus mundos, e cada pessoa tem seu jeito, suas experiêmcias e vivencias diferentes. Cheguei à conclusão que o ouvinte não pode chegar a nenhuma conclusão a respeito do assunto. Tampouco o surdo. Cada um pode tentar imaginar a situação do outro. Tenho a impressão que imaginar é, neste caso, muito diferente de decifrar conclusivamente. Por que o surdo jamais vai entender exatamente o mundo ouvinte, assim como o ouvinte jamais entenderá exatamente o mundo surdo. Há uma possibilidade: um surdo de nascença que passa a ouvir. Mas se foi ouvinte e ficou surdo, ainda assim não enetenderá o mundo de alguém que nasceu surdo e jamais ouviu.


A emoção produzida pelo tato e pela visão estará presente, sem dúvida, no coração do surdo. A emoção produzida por uma vida de "ouvir" palavras doces ou amargas, a princípio, não estará presente no coração do surdo. A menos que o surdo possa ver a pessoa, seus gestos, suas expressões faciais, sua boca enraivecida ejetando palavras de fúria. Mas as histórias ouvidas pelo ouvinte, e todas as palavras que de alguma maneira tenham contribuído durante uma vida para o desenvolvimento dum coração de personalidade com a devida expressão da emoção, a princípio, fogem da realidade do surdo. Aquela edificação formada pelo "ouvir", pela força da repetição das palavras em uma vida, podem não existir.


O amor do surdo é diferente, então? Será que o ouvinte saberá dimensionar e qualificar isto?
O sentimento do amor é diferente em cada pessoa ouvinte ou não, e a maneira de expressar isto é muito particular. De qualquer maneira, o surdo vive assim como o ouvinte vive. O surdo ama, namora, se casa. E vive muitas emoções. Muitas delas muito mais intensamente. Eu estava numa festa do chop bem barulhenta, acompanhado de surdos. Crianças gritavam, grupos musicais tocavam alto, businas, pessoas falavam alto. Estavamos observando alguns veículos muito antigos e bonitos, mas eu não conseguia me concentrar devido ao barulho. Os surdos não tiveram problema nenhum em se concentrar. Portanto, o surdo terá muitas vezes"vantagens", peculiaridades proprias diferentes.


O problema, na verdade, se transfere para os pais e professores.
Para os pais, de assegurar que o filho surdo tenha a consciência que é amado como seria se não fosse surdo.
Para os professores permanece a discutido gneuma: Como ensinar a emoção e a abstração através da Libras. Como "falar ao coração" do aluno surdo que não sabe Libras, e explicar que paixão é diferente de amor, que "saudades", assim como tudo na vida, pode ser expresso em Libras. Como trabalhar o lado emocional?


Como ensinar Língua Portuguesa? Com alfabeto? Com palavras prontas correspondendo a figuras? E como ensiná-los a formar frase? Deve-se ensinar Língua Portuguesa do jeito que se "fala" usando Libras? Ou como se lê a língua culta?


O respeito me parece ser a chave para decifrar o assunto. Professores surdos ensinarão seus alunos surdos, respeitando a cultura surda, as restrições e as possibilidades, fornecendo o suficiente para ser um cidadão equilibrado e útil à sociedade. Mas o professor surdo aprendeu com professores ouvintes. Só que ele entenderá muito melhor a mente do aluno surdo.


A empatia também me parece ser uma chave importante. Um esforço sério de se colocar no lugar de outra pessoa ajuda muito todos os envolvidos. No caso específico, ainda haverá a dificuldade, especialmente dos ouvintes - professor, pais, médicos - de entender com profundidade a diferença, o abismo entre as culturas ouvinte e surda.


Portanto, o amor, o carinho junto com respeito e empatia farão destas diferenças apenas um detalhe que precisa ser respeitado.

 

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